COMO EVITAR AS GRANDES FALHAS DA LIDERANÇA
A liderança desempenha um papel fundamental no sucesso das organizações nos dias atuais. Em um cenário de rápidas mudanças, crises e inovações tecnológicas, a capacidade de guiar uma equipe e promover a transformação organizacional é essencial. Como afirmou Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, “a liderança é a elevação da visão de uma pessoa para grandes alturas, a elevação do desempenho de uma pessoa para um padrão mais elevado, a construção de uma personalidade além de suas limitações normais”. Isso demonstra que a eficácia da liderança não apenas determina o desempenho de uma equipe, mas também molda a cultura organizacional e o futuro da empresa. No entanto, com o aumento das exigências e complexidades, surgem diversas falhas que podem comprometer a atuação de um líder, tornando crucial o entendimento dessas falhas e como evitá-las.
As falhas de liderança podem ser classificadas em duas grandes categorias: falhas estruturais da liderança e falhas da liderança para com a equipe.
As falhas estruturais referem-se à incapacidade do líder de planejar e executar uma estratégia eficaz, mantendo uma visão clara e a flexibilidade necessária para se adaptar às mudanças. Já as falhas de liderança para com a equipe envolvem questões mais relacionadas ao comportamento do líder no dia a dia, como o micromanagement, a falta de reconhecimento das conquistas coletivas e a incapacidade de delegar tarefas, fatores que prejudicam a autonomia e a motivação dos colaboradores.
Vamos nos aprofundar um pouco mais nas mencionadas categorias e entender como as mesmas ocorrem e o que fazer para evita-las:
1 – Falhas estruturais da liderança
Especialistas em management apontam as 3 principais falhas estruturais de liderança como sendo:
1.1 Resistência à mudança: Conforme destacado pela Harvard Division of Continuing Education (DCE), um dos principais fatores de falha em iniciativas de gestão é a resistência à mudança. A falta de envolvimento e a ausência de comunicação clara criam um ambiente de incerteza que impede o progresso. Essa questão é especialmente relevante no contexto de transformações organizacionais, onde o medo do desconhecido e o conforto com o status quo são fatores que dificultam o sucesso.
1.2 Comunicação ineficaz: Segundo a Prosci, empresa especializada em gestão de mudanças, a falha em manter uma comunicação contínua e clara durante o processo de mudança é uma das razões mais comuns para o insucesso dos líderes. Apenas comunicar uma vez o objetivo não é suficiente; é preciso reforçar constantemente a mensagem para manter todos os envolvidos na mesma direção. Isso requer do líder uma persistência no ato de comunicar e envolver a equipe, bem como observar o quanto essa comunicação continuada está (ou não) sendo efetiva.
1.3 Planejamento estratégico inadequado: A IMD Business School menciona que a falta de um plano estratégico bem-definido é outro motivo importante pelo qual transformações organizacionais falham. Muitas vezes, os líderes se concentram apenas no “o quê” da mudança, mas não dedicam atenção suficiente ao “como” ela será implementada. Isso cria confusão e compromete a execução do plano.
2 – Como evitar as falhas estruturais de liderança
2.1. Falta de Planejamento Estratégico Adequado
A – Estabeleça uma visão clara e um plano flexível: Um dos maiores erros no planejamento estratégico é criar um plano rígido, que não considera as mudanças e imprevistos. Um plano deve ser revisitado e ajustado periodicamente para garantir que esteja alinhado com o mercado e as condições internas da empresa. Kotter, em seu famoso modelo de gestão de mudanças, afirma que a criação de uma visão clara é o primeiro passo para garantir uma transição bem-sucedida dentro da organização). Ao criar essa visão, os líderes devem garantir que o planejamento seja flexível e ajustável conforme as circunstâncias mudam.
B – Utilize a metodologia SMART para definir metas: As metas devem ser específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazos definidos. Isso ajuda a manter o foco e a direção da equipe, além de proporcionar métricas claras para avaliar o progresso. Como reforça Peter Drucker, “o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado” — portanto, o estabelecimento de metas claras e mensuráveis é essencial para um planejamento estratégico eficaz.
2.2. Resistência à Mudança
A – Envolva a equipe no processo de mudança: Uma das maneiras mais eficazes de reduzir a resistência à mudança é envolver os colaboradores desde o início. Isso gera um senso de pertencimento e responsabilidade, fazendo com que eles se sintam parte do processo. Segundo John P. Kotter, envolver as pessoas na criação da visão e do plano de mudança faz com que elas comprem a ideia e ajudem a sustentar a transformação
B – Promova uma cultura de aprendizado contínuo: A resistência à mudança muitas vezes está enraizada no medo do desconhecido. Ao criar uma cultura de aprendizado contínuo, onde os erros são vistos como oportunidades de crescimento, o líder pode incentivar a aceitação da mudança e a inovação. De acordo com Mark Graban, em seu livro The Mistakes That Make Us, líderes que promovem um ambiente onde os erros são aceitos criam uma equipe mais inovadora e adaptável.
2.3. Comunicação Inconsistente
A – Estabeleça canais claros de comunicação: A comunicação deve ser clara, consistente e contínua. Os líderes devem adotar canais formais de comunicação, como reuniões regulares, além de garantir que todos os membros da equipe entendam os objetivos e expectativas. Segundo Patrick Lencioni, em The Five Dysfunctions of a Team, a falta de clareza e comunicação é uma das principais causas de desconfiança e desmotivação em equipes.
B – Ofereça feedback construtivo regularmente: O feedback regular é essencial para alinhar expectativas e corrigir desvios antes que se tornem grandes problemas. Segundo Kim Scott, autora de Radical Candor, feedback claro e direto, entregue de forma construtiva, é a base para uma liderança eficaz e para manter a equipe engajada e focada nos objetivos
3 – Falhas de liderança para com a equipe
Por vezes encontramos líderes capazes, comprometidos e profundos conhecedores do negócio e do mercado. No entanto, isso não é um atestado incondicional de que eles estão conduzindo suas equipes de modo adequado e competente. A estrutura de sua liderança pode estar sólida, mas o chamado “fator de execução de gerenciamento” nem sempre está tão bem consolidado.
Vamos identificar as falhas mais comuns da liderança para com a equipe:
3.1 Esquecer a importância da equipe e focar excessivamente nas conquistas individuais. Essa é uma falha relativamente comum, com potencial de minar a coesão do time e prejudicar a produtividade geral. De acordo com a Exeed College, líderes que não promovem um ambiente colaborativo acabam diminuindo a motivação dos colaboradores e comprometendo os resultados coletivos. A solução é reconhecer e celebrar as realizações do time como um todo, destacando o papel de cada membro nos sucessos alcançados e não somente aquele que “conquistou a medalha”.
3.2 Micromanagement, que é a tendência comum de exercer controle excessivo sobre as atividades da equipe. Isso sufoca a autonomia, inibe a criatividade e desmotiva os colaboradores. Líderes eficazes sabem delegar responsabilidades e confiam em seus times, criando um ambiente de inovação e crescimento. Esse ponto é amplamente defendido por Mark Graban, que sugere que uma liderança eficiente é aquela que incentiva a aprendizagem por meio de erros, em vez de promover uma cultura de infalibilidade. Um lema interessante para evitar o micromanagement pode ser: “concentre-se e controle os resultados produzidos, não se dedicando excessivamente na maneira como a equipe os alcança, desde que esse processo de alcance esteja devidamente mapeado”.
3.3 Falta de comunicação consistente é outra falha crítica. Segundo o Lean Blog, líderes que não conseguem transmitir suas expectativas de maneira clara e regular acabam criando confusão e desalinhamento. Nesse sentido, uma sucessão de falhas em geral ocorre de maneira mais ou menos regular. São elas: comunicação incompleta sobre o que se espera, comunicação apenas para alguns da equipe, falta de sequência, linguagem excessivamente técnica ou de difícil compreensão, falta de uma agenda de alinhamento, falta de tomada de feedback, comunicação apenas formais ou unidirecionais, além da falta de um plano horizontal de comunicação (elas são apenas verticais, ou seja, calcadas na hierarquia e determinação, não no diálogo e interação).
4 – Como evitar as falhas de liderança para com a equipe
4.1 Esquecer a importância da equipe
A – Celebre as conquistas da equipe regularmente: O reconhecimento frequente dos esforços coletivos reforça a motivação e a coesão da equipe. De acordo com Patrick Lencioni, em The Five Dysfunctions of a Team, a ausência de reconhecimento pode gerar desmotivação, enquanto celebrar conquistas aumenta o engajamento e promove um senso de pertencimento.
B – Crie um sistema formal de recompensas: Um sistema formal para recompensar os colaboradores pelas suas contribuições garante que todos os membros da equipe se sintam valorizados e reconhecidos. Ken Blanchard, em O Gerente-Minuto, defende que reconhecer pequenas vitórias aumenta a moral e mantém a equipe motivada a alcançar novos objetivos.
3.2 Micromanagement
A – Delegue com confiança e autonomia: O micromanagement prejudica a autonomia da equipe e sufoca a criatividade. A solução está em delegar responsabilidades e confiar que a equipe será capaz de executar as tarefas de maneira eficiente. Daniel Goleman, em seu livro Liderança: A Inteligência Emocional na Formação do Líder de Sucesso, ressalta que líderes que demonstram confiança em suas equipes criam um ambiente de confiança mútua, onde os colaboradores se sentem mais à vontade para inovar e assumir responsabilidades
B – Estabeleça check-ins periódicos em vez de controle constante: Substitua o controle excessivo por check-ins regulares para monitorar o progresso. Isso oferece aos colaboradores a oportunidade de compartilhar dificuldades e sucessos sem se sentirem sufocados. John Maxwell, em As 21 Irrefutáveis Leis da Liderança, afirma que a verdadeira liderança é sobre capacitar e guiar, e não sobre controlar cada passo do processo.
4.3 – Falta de comunicação consistente
A – Defina objetivos claros e específicos para a equipe: Um dos maiores desafios na gestão de equipes é a falta de clareza em relação às metas. Para evitar esse problema, os líderes devem definir expectativas claras e SMART (específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazos definidos). Segundo Peter Drucker, “a eficácia de uma equipe depende da clareza com que ela entende seus objetivos e seu papel dentro da organização”.
B – Comunique expectativas de maneira contínua e aberta: A comunicação contínua sobre as metas da equipe é fundamental. Reuniões regulares para ajustar as expectativas e esclarecer possíveis dúvidas ajudam a manter todos alinhados. Como reforçado por Kim Scott em Radical Candor, a comunicação transparente e aberta é a chave para manter as equipes focadas e evitar mal-entendidos que possam comprometer o desempenho.
Conclusão
Essa nova forma de liderar – muito mais participativa e aberta – tem se consolidado como uma das abordagens mais eficazes para enfrentar os desafios do mercado moderno. À medida que as organizações se tornam mais complexas e o trabalho em equipe se torna essencial, os líderes que promovem a inclusão, o diálogo e a colaboração destacam-se por sua capacidade de gerar resultados sustentáveis.
No curto prazo, o principal desafio para esses líderes é equilibrar a autonomia da equipe com a necessidade de direcionamento estratégico claro. Já no médio prazo, a constante transformação digital e as mudanças no ambiente de trabalho exigem que os líderes se reinventem continuamente, adaptando-se às novas realidades e promovendo uma cultura de inovação.
Como afirmou Simon Sinek, em Start with Why, “os líderes de sucesso não são aqueles que mandam e esperam resultados, mas aqueles que inspiram seus colaboradores a acreditar no propósito comum.” Esse novo tipo de liderança exige resiliência e comprometimento contínuo, já que os líderes precisam estar dispostos a ouvir, ajustar e se adaptar às necessidades de suas equipes e do mercado. Ao persistirem em se reinventar e em cultivar ambientes inclusivos e colaborativos, os líderes de hoje estarão mais bem preparados para os desafios futuros, garantindo não apenas o sucesso organizacional, mas também o engajamento e a satisfação de suas equipes.
Escrito por Sérgio Luiz de Jesus